quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Mulheres em Busca de Paz



O prêmio Nobel da Paz acontece desde 1901. Segundo seu criador, Alfred Nobel, seu ganhador deve ser "a pessoa que tivesse feito a maior, ou melhor, ação pela fraternidade entre as nações, pela abolição e redução dos esforços de guerra e pela manutenção e promoção de tratados de paz". Uma iniciativa louvável, que mais do premiar pessoas louváveis, também é uma forma de incentivar outras a fazerem o mesmo e de mostrar ao mundo e àqueles que nada fazem, que ainda existe muita gente boa disposta a fazer alguma coisa para mudar a vida dos outros.


Foram 124 ganhadores, em 110 anos de premiação. Algumas vezes, mais de uma pessoa foi laureada no mesmo ano. O que impressiona é que de todos os agraciados, apenas 18 são mulheres, ou seja, apenas 14,5%. Um número muito pequeno, se pararmos para pensar que nós, do sexo feminino, somos, na maioria das vezes, mais sensíveis que os do sexo masculino. Além disso, pare e pense: quantas pessoas ao seu redor se sensibilizam com os problemas dos outros? Fazem alguma coisa para ajudar? Quantos são homens? Quantas são mulheres? Não me surpreenderá se elas estiverem em maior quantidade.


A primeira a ganhar o prêmio, na sua quinta edição, foi a baronesa Bertha Felicie Sophie von Suttner, austríaca, que foi escritora, pacifista e compositora. Ela também era presidente honorária do Gabinete Internacional Permanente para a Paz. Já no seu primeiro livro, “Inventário de uma Alma”, ela incluiu o conceito social de paz, mas foi com o romance “Abaixo as Armas!”, traduzido para diversas línguas, que ela conseguiu fama e popularidade com o movimento pacifista.


Desde 2004 que nenhuma mulher era contemplada, ano em que a 15ª a ganhar o prêmio, a queniana Wangari Maathai, professora, ambientalista e ativista dos direitos humanos se destacou ao brigar contra o regime opressivo no Quênia, inspirando muitos na luta pelos direitos democráticos, e encorajando principalmente as mulheres. Mas, este ano, o sexo feminino foi triplamente laureado com o Nobel, feito só conseguido antes em 1994, quando Yasser Arafat, Shimon Peres e Yitzhak Rabin foram premiados por concluírem os acordos de paz em Oslo.


As guerreiras laureadas deste ano foram a presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, a pacifista, também da Libéria, Leymah Gbowee e a jornalista e defensora dos direitos humanos do Iêmen Tawakkul Karman. Segundo o site do prêmio Nobel, elas ganharam "por sua luta não-violenta para a segurança das mulheres e pelos direitos das mulheres à sua plena participação na construção da paz e trabalho."


Sirleaf foi a primeira mulher a ser eleita presidente no continente africano, o que já garante uma grande vitória ao abrir o precedente às mulheres não só daquele país, mas de todo continente. Vista no exterior como símbolo na nova África, não é unanimidade em seu país, mas milita no combate à guerra civil responsável pela morte de mais de 200 mil pessoas. Ao ser presa e ameaçada de morte na década de 80, encarou os soldados e disparou: “Vocês não podem fazer isso, pensem em suas mães.”


Inspirada em Lisístrata, da comédia grega de Aristófanes sobre a guerra do Peloponeso, Gbowee persuadiu mulheres de combatentes em 2002 a fazerem greve de sexo com os maridos até eles negociarem o fim da guerra. Além disso, como integrante do Movimento Mulheres pela Paz, foi às ruas com mulheres vestidas de branco, cantou e rezou, estimulando também o voto feminino.


Também conhecida como mãe da Revolução do Iêmen, Karman se revoltou contra o regime de Ali Abdullah Saleh ao ser presa temporariamente. Alguns a consideram uma islamita radical. Desde 2007, ela faz parte de manifestações na Praça da Mudança, sempre de forma pacífica. Além disso, ela preside a organização Mulheres Jornalistas sem Correntes, voltada para a defesa da liberdade de expressão.


Suttner, Maathai, Gbowee e tantas outras, que ganharam prêmios ou não, mas que fazem a sua parte e a de tantos outros que nada fazem, são legítimas representantes do sexo frágil que, convenhamos, depois desses exemplos não pode ser mais considerado tão frágil assim. Mais que ganhar, elas mostraram que uma mulher pode ajudar a mudar uma realidade e conquistar muitas coisas, não só para si, mas para uma nação inteira. Que elas sirvam de exemplo e de inspiração para tantas outras e que os jurados do prêmio também se inspirem nelas para buscar outros exemplos por que, tenho toda certeza, éramos para ser um número bem maior que 18.

Nenhum comentário:

Postar um comentário