quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A Guerra para Nascer Mulher











As pessoas dizem por aí que ser mulher é difícil, que nós ainda sofremos preconceitos nas ruas, no mercado de trabalho, que somos vistas como mercadoria pelo olhar sexista e machista de muitos homens, entre tantos outros fatos. Concordo com tudo isso. Mas, recentemente, ao ler uma matéria no jornal, realizei que pertencer ao sexo feminino pode ser bem mais complicado em alguns lugares. Mais difícil que lutar em uma guerra, e do muitas outras coisas que você e eu possamos imaginar juntos. Claro que eu já tinha ouvido falar sobre isso e aposto que você também. O que eu não sabia é a proporção em que isso acontece.


Os números são assustadores: são dois milhões de mulheres a menos no mundo por ano, diz o relatório do Banco Mundial sobre “Igualdade de Gênero e Desenvolvimento”. Mais assustador ainda é saber que se trata de um genocídio silencioso, de meninas que na maioria das vezes nem chegam a nascer, simplesmente pelo fato de pertencerem ao sexo feminino ou, se chegam, acabam morrendo antes de completar cinco anos.


1,427 milhão de meninas não chegam sequer a vir ao mundo por causa do aborto seletivo e 617 mil morrem até alcançar cinco anos por negligência de gênero. Ou seja, independente dos casos, elas sequer têm a chance de dizer: “Ei, eu quero viver e lutar com unhas e dentes pelo meu espaço. Não posso ser discriminada por que sou mulher!” Me pergunto calada o que diriam se lhes fosse dada a chance de falar a que vieram e por que não merecem ser assassinadas antes mesmo de descobrir a sociedade intolerante em que vivemos.


Índia e China registram altos índices de mortalidade feminina de 0 a 5 anos. No primeiro, as famílias querem meninos para receber dotes, apesar de a prática estar proibida e, segundo a UNFPA, são realizados 1600 abortos seletivos diariamente. No segundo, a política de um filho só faz com que os pais prefiram o do sexo masculino. No leste da Europa e no Cáucaso, duplicaram os abortos seletivos, principalmente na Sérvia, no Azerbaijão e na Geórgia. Além disso, a ascensão social fez com que famílias em países pobres passassem a ter dois ao invés de seis bebês, privilegiando os homens.


De onde vem tanta desvalorização pela mulher? Por que ninguém faz nada contra isso nesses países? Será que ali só vivem homens ou pessoas sem um pingo de sentimento? A reposta está lá trás, no passado desses países. A cultura de um povo vem de seus antepassados e desde o início da história o sexo feminino é relegado ao segundo plano, vide a parábola bíblica de Adão e Eva, onde ela é criada depois dele, graças a um pedaço de sua costela. Depois, após ela comer o fruto proibido, eles foram expulsos do paraíso, onde começa todos os problemas.


Os números aterrorizantes dessas práticas monstruosas nesses países mostram que essa culpa ainda existe, que ser mulher ainda é um pecado e que este genocídio silencioso acaba passando despercebido pelo resto do mundo. Me assusta pensar que essa “seletividade” de gênero seja cultural e “normal”. Matam descaradamente essas meninas, arrasam a vidas das mães, que com certeza carregam esse sofrimento para o resto de suas vidas, tudo por conta do gênero.


Historicamente, somos o segundo sexo e é muito difícil mudar isso. Isso acontece no campo profissional, na hierarquia da família, no valor que nós temos para a sociedade. Já mudou muito em alguns lugares, na Coréia do Sul, por exemplo, houve uma grande campanha do governo para valorizar a mulher na sociedade e inseri-la no mercado de trabalho. Com isso, conseguiram reduzir esses números assustadores. Percebe-se que não obrigaram isso a acontecer com leis, mas tentaram reeducar a mentalidade obsoleta e preconceituosa da população. Educação e vontade de mudar. Esse pode ser um dos caminhos para tentar acabar com esse extermínio disfarçado. Mas a pergunta que não quer calar: de quem será o primeiro passo?

Nenhum comentário:

Postar um comentário