domingo, 20 de novembro de 2011

Moda para todos


Capa clicada por Steven Meisel

Sabe aquela idéia Dove de mulheres reais contrastando com a padronização atual da beleza esquálida? Ela é apoiada na sua maioria pelas pessoas “reais”, porém para os fashionistas é a pior imagem que existe. Entretanto venho dar boas notícias sobre o universo da moda: existe extinto de humanização na realeza fashion. E ela se chama França Sozzani, editora da Vogue Itália há 23 anos. Trata-se de uma mulher que chegou a espalhar uma petição contra os sites pró-anorexia e em junho deste ano criou mais uma vez polêmica com a capa da edição intitulada Belle Vere em um ensaio feito pelo fotógrafo Steven Meisel com três mulheres lindas e recheadas com muitas curvas, eu diria. Digo mais uma vez polêmica porque não é a primeira vez que Franca foge dos padrões da moda por ficar, segundo ela mesma, “entediada” com as mesmas coisas de sempre. Em 2008 ela lançou uma edição inteira dedicada à beleza negra, a Black Issue. Além disso, na versão online existem três seções que eu considero dignas de uma editora que faz a diferença: V talents (novos talentos), V Curvy (dedicado às gordinhas) e V Black (à beleza negra). Pela Back Issue, ela chegou a ser criticada por racismo e segregação, mas o que essa mítica personalidade quer é exatamente o contrário. “Há dois anos fizemos a edição com as modelos negras e desde então vejo muito mais meninas negras nos castings dos desfiles. Esse tipo de provocação resulta em mudanças”, disse em entrevista ao site The Cut. Em contrapartida à regra das revistas de moda, a Vogue Itália também costuma usar pessoas reais com estilo singular, em vez de modelos, como Al Gore e Nelson Mandela e levantar temas como o exagero nas cirurgias plásticas.
Praticamente toda vez que Franca dá alguma declaração, vira polêmica, seja em seu twitter, blog, ou à imprensa, como quando disse à revista semanal “Newsweek” que a Dior deveria recontratar John Galliano, ou quando falou à “Time” que Silvio Berlusconi dá a impressão de que toda a Itália é um cassino gigante. A última publicação em redes sociais que causou frisson e particularmente mais ainda a minha admiração foi: “Eu acho que elegância é muito entediante” e “eu odeio fashionistas”. Sobre o assunto ela responde: “A internet é tão rápida e essas frases são facilmente captadas. Às vezes eu digo que eu acho que elegância é muito entediante, ou que eu odeio fashionistas. Você começa com algo que disse em uma situação, e depois os jornalistas pegam uma frase e dizem só aquilo. Não é que eu acordo e digo “Eu odeio fashionistas”. Mas eu realmente odeio fashionistas.”  
E não para por aí, em setembro deste ano ela foi nomeada Embaixadora da Boa Vontade da ONU, para o projeto “Fashion 4 Development” (Moda para o Desenvolvimento), que está em busca de maneiras da indústria da moda promover o crescimento econômico nos países em desenvolvimento. A editora deu uma entrevista ao ao jornalista Eric Wilson, do The New York Times onde falou sobre essa nomeação e contou sobre seu desejo de ajudar a melhorar as habilidades de produção nesses países, possivelmente trazendo artesãos italianos para ensinar algumas técnicas. Confira abaixo alguns flashes da entrevista:
Qual o papel de uma embaixadora da boa vontade da moda?
Eu nunca fui uma pessoa política. Eu apenas digo o que penso. Através das pessoas que conheço acho que podemos fazer um projeto que possa ser adaptado aos outros países. Se nós apenas formos a algum lugar e prometermos fazer algo, nunca faremos coisa alguma. Basicamente, meu projeto é começar com um pequeno número de pessoas que possam aprender um trabalho. Devemos fazer um pequeno laboratório, e depois disso nós podemos encontrar alguma maneira de produzir. Devemos pensar sobre onde fazer a distribuição, e o passo a passo sobre dar a eles dignidade no trabalho, mas também o respeito ao ser humano. Caso contrário, se eles não têm um salário justo, as coisas só mudam para as pessoas que podem fazer negócios.

Onde você vai começar?
Vou começar agora com a África, mas primeiro preciso ir pra Coreia, provavelmente no meio de novembro, para falar sobre moda e ver o que está acontecendo. Eu quero aprender como eles começaram. Através deles vou entrar em contato com outros governos, provavelmente na África.
Isso simboliza também o que você tem tentado fazer na revista, fazer com que a indústria mude de maneira positiva?
Não, para ser honesta, essas duas coisas são diferentes. Mas poderiam se tornar conectadas. Por exemplo, para a “L’Uomo Vogue”, eu fiz uma edição na África, e toda a renda que veio da edição foi para organizações diferentes.
Você acha que a indústria mudou como um todo como resultado das questões que você tem colocado em sua revista?
Não totalmente. Nós fizemos uma edição sobre extremos em cirurgia plástica, e eu ainda fico mais e mais chocada com o quanto as pessoas mudaram. Desde então, eu não acho que tenha visto tanto Botox pelo mundo. Nós não paramos nada. Onde eu acho que nós provavelmente fizemos um bom trabalho foi com a edição negra. Não imediatamente, não como se todo mundo dissesse após a edição “Agora eu quero ter garotas negras”. Mas eu vejo, pouco a pouco, há mais e mais garotas negras na passarela. Parte do problema é das agências. Nós não temos muitas garotas americanas, você não têm italianas, você não têm francesas. Os olheiros só vão para a Europa oriental agora. É possível que todos os outros países não tenham garotas bonitas? Eu não posso acreditar nisso. Eu estava tão entediada de ver todos aqueles rostos. Todos pareciam iguais. Ao fazer todas as garotas iguais – loiras, olhos azuis, pernas longas – ao final, todas as roupas parecem iguais. Eu não estou tentando provocar. Todo mundo está olhando as coleções, e imediatamente depois você fica entediado. Moda é experimentação; é sempre excêntrica. É quebrar regras. Nós tentamos achar uma boa razão para quando queremos fazer algo. Nós tentamos seguir o que está acontecendo no mundo, mas através do ponto de vista da Vogue.
O papel do editor parece ter mudado de observador da moda para participante. Você foi surpreendida por essa mudança?
Eu acho que o trabalho mudou completamente nos últimos 20 anos, assim como a moda tem se tornado cada vez mais e mais rápida. E então nos últimos 10 anos, mudou completamente, para os designers também. Com a enorme distribuição de Zara, H&M e Mango, tudo isso mudou o ponto de vista. Eu acho que isso é fantástico porque todo mundo pode fazer parte do mundo da moda e eles podem estar vestidos de uma maneira fantástica. O limite é que isso se tornou tão global, tão a mesma coisa, que é muito difícil para um designer encontrar uma nova maneira de existir. Para eles se tornou mais e mais difícil de achar um novo jeito de ser. Não é como se eu fizesse essas edições porque eu me sinto provocadora. Eu faço assim porque eu me sinto assim. Digamos que eu vou por instinto. Isso é certeza. Eu posso mudar uma edição até dez dias antes de ser lançada, porque se, por instinto, eu sentir que não está boa, que está chata, ou que eu não gosto dela, então não é bom para nós e eu mudo.
Fotos do editorial com as "belas reais"


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